domingo, 11 de novembro de 2012

Sonhei. E o avião caiu na minha frente

Aconteceu. Hoje "finalmente" vi um acidente de avião. Ali, na minha frente, sem poder fazer nada, um grande susto que logo passou quando eu e a Adriele, minha esposa, percebemos que ele não iria explodir e nem transpor o muro que o separava de nós, completamente indefesos no trânsito da Avenida dos Bandeirantes sentido Marginal.

Adriano Lima/Terra

Só deu pra perceber pela luz e pelo barulho das turbinas batendo que alguma coisa acontecia no meu lado esquerdo. Olhei, ouvi o grito da Adriele, torci rápido para ele parar, ele parou. Ela ouviu o barulho de queda e avistou o jato caindo pelo barranco, enquanto eu, que estava dirigindo, só vi o impacto final. Minutos depois, liguei para o brother Denis Serio, ex-colega de R7, que estava de plantão, e ele imediatamente correu atrás das informações. Sabia que não seria necessário chamar polícia ou bombeiros, porque a equipe de Congonhas certamente já estava a caminho.

Felizmente, nada de mais grave aconteceu - aparentemente ele derrapou na pista ao tentar pousar, e três de seus cinco ocupantes tiveram ferimentos leves. O susto foi maior para eles, tenho certeza. Mas uma pergunta do Denis, mais à noite, me fez pensar: “E se ele não tivesse parado no barranco?” Bom, ele teria varado nossa cabeça, pois meu carro estava na mira, transitando por essa estranha zona de escape de Congonhas chamada Avenida dos Bandeirantes - tem uma outra tão estranha quanto, de nome 23 de Maio, ou Washington Luís, ou Rubem Berta, sei lá, no fim é tudo a mesma avenida, é o tal “Corredor Norte-Sul” de São Paulo.

Imediatamente após o impacto, veio na minha mente todos os sonhos. Inúmeros, mesmo, desde antes do acidente da TAM em Congonhas em 2007. Primeiro, o cenário era geralmente o entorno de Congonhas; depois, os ambientes começaram a variar. De maneiras e em lugares diferentes, o final era o mesmo: eu presenciava um avião caindo numa avenida, explodindo no ar, mergulhando no oceano, batendo num prédio. Nunca acontecia nada comigo, mas era sempre assustador pensar em quantas pessoas estavam perdendo a vida. Ficou tão repetitivo que eu comecei a perceber que era sonho, acordando segundos depois. Eles ficaram menos recorrentes nos últimos tempos, mas me recordo de algumas semanas atrás, quando sonhei novamente com isso e não me dei conta que era sonho. Pelo contrário, acordei um tanto atordoado.

E o mais assustador é que relatei isso nesse mesmo blog, em 9 de junho de 2009, na época da queda do AF 447, da Air France, no Oceano Atlântico. Está lá: “Antes daquele início de noite de 17 de julho de 2007 [data da queda do avião da TAM na Washington Luís], sonhei diversas vezes com a imagem de um avião caindo na 23 de Maio ou na av. Bandeirantes. Não quero posar de Nostradamus nem nada, e digo que esse pesadelo era totalmente justificável e, acredito, não tinha nenhum teor premonitório. Até onde eu sei, pelo menos.”

Apesar do que aconteceu hoje, não perderei meu tempo quebrando a cabeça para saber se esses sonhos eram premonitórios ou não, até porque nunca terei certeza. Como contei naquele texto de 2009, cresci respirando aviação, e talvez a presença daquelas aeronaves ali, subindo e descendo tão perto da gente, sempre tenha me deixado com pulgas atrás das orelhas. Um dia uma merda iria acontecer, como aconteceu em 1996, também com um avião da TAM, e de novo em 2007. E Congonhas continua lá, com suas máquinas tão fascinantes quanto assustadoras para quem mora ou passa por ali todo dia. Por mais maluco e inviável que pareça, um dos maiores aeroportos do Brasil está localizado bem no centro da maior cidade do país, com praticamente nenhuma área de segurança para os que estão em volta levando sua vida normal. E isso não deve mudar, pelo menos num futuro próximo.

Mas acho que não posso reclamar muito: graças a tudo que é bom nessa vida, o acidente de hoje não se comparou aos dos sonhos catastróficos, nem vítimas deixou. E foi interrompido justamente numa dessas “áreas de segurança” que estão ali só para constar (ou não).

Reprodução/SPTV
Aos 44 segundos de vídeo, o Fit chumbo passa pela Bandeirantes, com o motorista que vos escreve e passageira bem assustados

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carta aberta de um torcedor brasileiro à TV Globo

À direção das Organizações Globo:

Sou Marcelo Freire, 26 anos, jornalista e corintiano. Posso ser considerado um torcedor brasileiro, daqueles que foram citados nesta quarta-feira (2/3) em um comunicado da Rede Globo. Esse texto explica, “em respeito ao torcedor”, os argumentos da emissora no imbróglio desta com o Clube dos 13 pelos direitos de transmissão referentes às edições de 2012, 2013 e 2014 do Campeonato Brasileiro de futebol.

Primeiro, agradeço que a emissora cite o torcedor brasileiro como “parte mais importante do Projeto Futebol”, como diz o último parágrafo do texto. Mas observo que, no restante do comunicado, nada mais me diz respeito.

Sinceramente, o fato de os clubes terem aumentando sua receita por causa do acordo anterior com a emissora, as condições do Clube dos 13 “que não atendem aos formatos de exposição do conteúdo” da Globo e “a desestruturação de um projeto complexo” por conta desse novo formato de concorrência estão completamente fora do meu leque de preocupações. Talvez tenham relevância para o Marcelo jornalista, mas não para o Marcelo torcedor.

E vocês sabem por quê? Porque para mim e para todos os torcedores com quem converso - o que me faz acreditar que uma boa parcela dos torcedores pensa assim -, o que incomoda é o maldito horário futebolístico inventado por vocês há alguns anos: 22h, às quartas e quintas-feiras.

Não sou um frequentador assíduo dos estádios mas, eventualmente, assisto a jogos do Corinthians no Pacaembu. E digo que é péssimo voltar para casa à meia-noite por inúmeras razões, sendo que a escassez do transporte público e o fato de que geralmente acordamos cedo no dia seguinte são as principais. Esse horário prejudica bastante os torcedores, principalmente os que são da Grande São Paulo e que, às vezes, demoram mais de uma hora para voltar para suas casas. Tenho certeza de que esse problema se repete em outras cidades do país, ainda mais aquelas que não tem um sistema público de transportes tão amplo quanto São Paulo.

Ainda relativo a esse problema, não entendo por que um jogo transmitido pelo canal por assinatura Sportv na quinta-feira - às vezes, restrito ao pay-per-view -, também se sujeite a esse horário horrível, porque a partida nem atrapalhará o horário da novela (sabemos que é esse o problema!). Peço bom senso, porque é ruim para todos - até para quem está em casa e precisa acordar, por exemplo, antes das 7h. Rotina comum a milhões de brasileiros, imagino.

Outro ponto: apesar de ser corintiano, me incomoda o fato de a Globo priorizar exclusivamente a audiência e deixar um pouco de lado a transmissão de jogos importantes de outros grandes clubes. Me lembro de quando a emissora alterou um jogo entre Corinthians e Bragantino, pela Série B do Brasileiro de 2008, para que ele pudesse ser transmitido na quarta-feira. Só que, no mesmo horário, Fluminense e LDU faziam o primeiro jogo da final da Copa Libertadores e ficaram relegados, em São Paulo, ao restrito Sportv. Apesar de o Fluminense não ser paulista, aquele era um jogo de interesse muito maior para os torcedores (até mesmo para corintianos menos fanáticos) do que a “pelada” válida pela segunda divisão do Brasileiro. Muita gente reclamou.

O esporte e os torcedores, nesses episódios, foram deixados de lado em detrimento de interesses exclusivos da Rede Globo. E esses interesses, no segundo caso, me parecem até controversos: será que um Corinthians x Bragantino pela Série B tem uma audiência tão maior assim do que uma final de Libertadores envolvendo o Fluminense?

Resolvidas essas questões, desejo boa sorte à emissora no acerto com os clubes, independentemente do envolvimento ou não do Clube dos 13. Espero apenas que a negociação seja justa e siga os termos definidos pelo Cade, órgão que existe, segundo ele próprio, para evitar "abusos de poder econômico" - como uma concorrência desleal.

Afinal, não tenho nada a reclamar da qualidade técnica da transmissão da Globo (talvez de alguns comentaristas, mas fica para outra carta), então posso dizer que o desfecho me deixará satisfeito caso o torcedor seja realmente respeitado - que é justamente o que a empresa brada no seu comunicado desta quarta-feira.

Atenciosamente,
Marcelo Freire

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Memórias de uma Mente sem Lembranças *

* Colaboração minha (espero que a primeira de muitas) para o ótimo portal da Galeria do Rock - sim, a própria, do Largo Paissandu

A ótima piada que abre a autobiografia de Ozzy Osbourne (leia o livro para saber de qual se trata!) ilustra perfeitamente a personalidade dúbia e o conflito interno vivido por um homem que já chegou a todos os limites físicos e mentais que um ser humano pode atingir. Ultrapassou esses limites, na verdade - mas está vivo até hoje para contar como sobreviveu.

Lançado no ano passado, "Eu Sou Ozzy" (versão brasileira publicada pela Editora Benvirá) é a história do Madman contada por ele mesmo - na verdade, o que ele se lembra. O livro de 400 e tantas páginas é realmente fácil de ler, graças à linguagem dinâmica e às tiradas irônicas e engraçadas de Ozzy, que contou com uma óbvia ajuda para escrever a obra - no caso, o jornalista americano Chris Ayres. Por isso, e também por todo o apelo da figura do vocalista, o livro logo se tornou um dos mais vendidos nos Estados Unidos.

Apesar de ser um dos fundadores e o principal vocalista da história do Black Sabbath, Ozzy ganhou espaço na “mídia comum” por conta das bizarrices que promoveu ao longo dos lisérgicos (para ele) anos 80, principalmente após uma "inocente" mordida na cabeça de uma pomba em uma reunião organizada pela sua gravadora, em 1981. Depois, quem sofreu com os dentes do cantor foi um pobre morcego, em pleno palco. E ele logo virou o inimigo número 1 dos Estados Unidos (onde passou a morar), depois de vários episódios controversos.

No entanto, entre o fim dos anos 70 e durante toda a década de 1980, Ozzy parecia se condenar à morte com os abusos ininterruptos de álcool e drogas pesadas. Ao mesmo tempo, erguia sua carreira solo com uma nova banda (que incluía, claro, o guitarrista-prodígio Randy Rhoads, de triste destino) e deixava para trás o fantasma do Black Sabbath. Para isso, contava com o suporte da empresária e nova esposa, Sharon, de personalidade igualmente explosiva e que, tempos depois, seria vítima de uma tentativa de assassinato - ou algo perto isso - por parte do insano marido.

Essa autodestruição que muitas vezes quase terminou em tragédia é o aspecto mais interessante do livro. Mesmo disparando sua ironia ao relatar os episódios de loucura, não há como ficar impassível com tantas crises, ainda mais quando elas envolviam sua família. Além disso, ele ainda teve de lidar com a morte de Rhoads em um bizarro acidente aéreo, em 1982, que gerou uma crise em sua banda.

De sua maneira, e com algumas recaídas posteriores (também apontadas no livro), Ozzy conseguiu reerguer sua vida e sua carreira quando ninguém mais esperava. E, de repente, virou uma "referência positiva" na história do rock, observado quase sempre com simpatia e humor. No fim, a biografia ajuda a desmitificar a imagem de “velho gagá” perpetuada pelo reality show de gosto duvidoso “The Osbournes”, para o qual Ozzy olha hoje com certo desdém e arrependimento. Ele conta que seu crítico vício em remédios, à época, deturparam completamente sua imagem no programa da MTV, que também aparentemente mexeu com a cabeça de seu filho Jack - transformado em celebridade instantânea e que também acabaria lutando contra o alcoolismo.

“Eu Sou Ozzy” é um retrato pessoal, aparentemente sincero e autocrítico que o Madman faz da própria vida. E é uma experiência antropológica sobre aquele que testou os limites do ser humano e hoje agradece, em meio a piadas e risadas, por ainda poder contar a história de sua vida.

** Colaborou Adriele Marchesini

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

(Not) Just a Jealous Guy


Sou nascido em 1984, portanto não vi John Lennon vivo. Não se engane pela aparente banalidade desse fato, porque faz muita diferença na vida de todos que gostam (e conhecem) Rock ‘n’ Roll, o mínimo que seja. E percebi isso há pouco tempo, depois de ler, ouvir e ver muita coisa do Beatles e do Jôn, como meu pai diz (com som de “J” mesmo, não “Dj”).

Essa constatação também me faz quebrar o silêncio desse blog, desatualizado há quase um ano. Para isso, diversos motivos, nenhum que vale a pena citar. Mas, como eu disse no primeiro post desse endereço virtual, um blog nasce a partir da vontade de escrever. E ela veio agora, com tudo, nesse 8 de dezembro de 2010.

Não entrarei em detalhes sobre a obra de John, a morte violenta há 30 anos, as polêmicas, a relação com Yoko, assuntos que naturalmente inundam a imprensa nesses dias. Na verdade, tento entender e humildemente compartilhar o porquê da grandeza desse homem, que não mudou apenas a história do rock ou da música. Mais do que isso, fez boa parte do mundo acreditar no ser humano - o que parece quase impossível atualmente.

É importante ressaltar que John Lennon, acima de sua obra, foi a maior cabeça pensante do Rock ‘n’ Roll - na minha opinião, apenas Bob Dylan chega perto, mas o alcance de suas palavras foi muito mais restrito. Mesmo na fase pop e ingênua dos Beatles (desprezada por alguns), Lennon já se mostrava um cara inteligente, visionário, com domínio das palavras, de personalidade forte, eventualmente arrogante e até agressivo. Não raro, intimidava repórteres, assessores, músicos e mesmo pessoas próximas porque sempre parecia saber mais do que o outro. E sabia mesmo.

Foi assim que esse cara, principalmente depois de encontrar a parceira Yoko, fez a diferença na História. Sentiu a chegada do Verão do Amor, do movimento hippie, pediu paz em músicas (“Give Peace a Chance”, “All You Need is Love”) cujas letras, infelizmente, parecem piegas 40 anos depois. Podem até ser, mas a culpa não é dele, e sim do mundo, que não dá a mínima mostra de absorção dessas mensagens tão simples quanto verdadeiras.

Viu chegar a era dos protestos, com a juventude inflamada. Puxou o coro e começou a exigir paz, mas pediu calma aos mais violentos (“but when you talk about destruction, don’t you know that you can count me out”). Depois, se desiludiu com tudo: renegou os Beatles por um tempo após o fim da banda, disse que só acreditava nele e na Yoko, passou a deixar a música um pouco de lado. Chegou a brigar com Yoko. Se afundou nas drogas pesadas, bebia muito, injetava também, mas conseguiu ficar longe do fundo poço. Voltou com Yoko, viu o nascimento do filho Sean. Para acompanhar seu crescimento, e impedir o que aconteceu com o filho do seu outro casamento, o ignorado Julian, largou a música por cinco anos.

Deu uma sumida, mas nunca se calou. Alfinetou políticos, continuou a falar sobre a necessidade de melhorar o mundo, criticou as guerras, a estupidez do ser humano, o preconceito. Brigou, inclusive, com a Justiça americana; queria viver em Nova York, onde se sentiu acolhido. Venceu porque convenceu, como sempre. Ele era o cara que sempre tinha algo a dizer, e todos paravam pra ouvir.

Incrivelmente, a música foi apenas um detalhe (e que detalhe!) na grandiosa (e põe grandiosa nisso!) vida da maior cabeça-pensante da história do Rock ‘n’ Roll. Sem ele, o estilo musical não teria tocado tanto a vida das pessoas e nem seria o fenômeno que ainda atinge as novas gerações. Lennon mostrou que o Rock tinha voz ativa na sociedade ocidental, a qual ambos influenciaram profundamente.

Eu não vi John Lennon vivo. E sabe por que faz diferença? Porque eu não conheci esse mundo de esperança, esse mundo que acreditava que o mais famoso Beatle poderia fazer a diferença, não fecharia os olhos para as injustiças, continuaria incomodando os poderosos - e sempre com uma imensa quantia de seguidores.

O mundo ficou pior e perdeu muito da esperança após o dia 8 de dezembro de 1980. Mas a gente ainda crê, mesmo tendo nascido depois. John Lennon nos fez acreditar numa sociedade melhor e mais justa.

E, no fim das contas, ele se considerava apenas um cara ciumento, como qualquer outro, porque era igual a todos - apesar de ter sido tudo isso descrito acima.

EM TEMPO: Nos Beatles e fora deles, prefiro as músicas do Paul.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Há 30 anos: Permanent Waves


"Begin the day with a friendly voice..."

Pequena intro

Lembro muito bem a primeira vez que ouvi "The Spirit of Radio". Em 2000, estava no Guarujá com meu primo e decidi comprar um disco do Rush, que eu conhecia pouca coisa - alguns hits e um pouco dos álbuns "Fly by Night" (1974) e "Presto" (1989). Comprei o "Retrospective vol. 1" (1997), que abria logo com essa música.

Ela me chamou muito mais a atenção do que as outras, das quais não gostei tanto. Virei fã mesmo do Rush em 2002, naquele show no Morumbi, quando descobri o que existia por trás daqueles trio de nerds com aparência de que apanhavam na escola. A sint0nia com o público, a precisão e sentimento em cada nota, acorde... os caras eram muito especiais, apesar do meu porre homérico daquela noite.

Estava eu deitado nas arquibancadas do Morumbi, buscando forças para melhorar, e aquela introdução me levantou. De repente, estava mais sóbrio do que padre em dia de missa. Embromava aquela letra difícil, mas poética, que tinha trechos como "one likes to believe in the freedom of music", frase que estabeleci como lema para a vida.

Saí de lá já pensando em quais discos comprar para iniciar minha coleção - até então, só tinha os dois "Retrospective". Os primeiros foram os ao vivo "Exit... Stage Left" (1981) e "All the World's a Stage" (1976). Depois, veio "2112" (1976) e, finalmente, "Permanent Waves" (1980).

Desde então, é minha banda favorita.

O disco

Rush - Permanent Waves - 01/01/1980


Qualquer disco que comece com "The Spirit of Radio" empolga, mas nesse eles se superaram. Após toda a complexidade de "Hemispheres" (1978), "Waves" deixou tudo mais simples. Duas canções bem para cima ("Spirit" e "Freewill") anunciavam o início da positiva década de 80 - o álbum foi lançado, simbolicamente, em 1 de janeiro de 1980.

A homenagem à música feita na primeira música se transforma em um hino pelo livre-arbítrio na segunda. "Freewill" tem um dos melhores solos da carreira de Alex Lifeson, que trouxe mais melodia em "Waves" - característica ainda mais clara no disco seguinte, o clássico "Moving Pictures" (1981).

Além de escrever a letra e transformar a bateria quase em um instrumento melódico que duela com guitarra, baixo e teclado, Neil Peart faz questão de buscar uma levada independente em "Freewill".

"Jacob's Ladder" fecha o lado A de forma um pouco sombria e dá mais ênfase às passagens instrumentais, mais curtas nesse disco do que nos anteriores. Mesmo assim, uma sequência rítmica quase impossível de decorar, no meio da canção, mostra o Rush ainda buscando o próprio limite da virtuose musical, sempre com bom gosto.

O lado B começa leve, com a romântica "Entre Nous" e a sutil "Different Strings", que tem no piano Hugh Syme, o artista que elaborou quase todas as capas do Rush. Apesar de "Entre Nous" ser quase uma canção de amor, ela também traz o lado individualista de Peart ao pedir que o casal da história fique junto, mas resguarde sempre suas próprias vidas e personalidades. A música ganhou importância na história da banda quando apareceu ao vivo, pela primeira vez, em 2007, nos set lists da turnê "Snakes and Arrows".

"Natural Science" encerra o disco retomando os temas longos e complexos dos álbuns anteriores, mas com um pé na modernidade. Ela também tem menos solos do que se pode esperar de uma música de dez minutos no Rush, sendo bem equilibrada nesse sentido. Não à toa, virou um clássico e não sai dos shows desde meados da década de 90.

Na arte da capa, destaque para o jornal com a (hoje apagada) inscrição "Dewey Defeats Truman", manchete do Chicago Tribune em 03/11/1948. Naquele ano, o democrata Harry Truman derrubou os primeiros prognósticos e venceu a eleição para presidente dos EUA. O jornal, por sua vez, se deu mal ao publicar a notícias antes da hora, apostando no republicano Thomas Dewey.

Na capa original, parecia uma alusão aos erros humanos e às mudanças repentinas - temas recorrentes em "Waves", cujo título aparentemente contraditório ("Ondas permanentes") já brinca com essa relação. O Rush, no entanto, recuou e retirou a manchete da imagem do álbum, criada pelo já citado Hugh Syme.

O fato de "Permanent Waves" ter sido lançado justamente no primeiro dia dos anos 80 também é muito simbólico. Afinal, nada como iniciar uma nova década com um disco repleto de novidades e levemente influenciado por elementos do reggae e da new wave, bem mais escancarados a partir de "Signals" (1982). O trio se desgarra um pouco dos anos 70 e entra de cabeça na nova era - o disco é a ponte entre os dois períodos.

Por ser um disco de transição também entre o complexo e o simples, "Permanent Waves" funciona como "um pouquinho de tudo" da carreira do Rush, apesar de conter apenas seis músicas. O que poderia indicar falta de foco, no entanto, demonstra apenas a evolução do trio, que não abandonou as raízes dos anos 70.

E o Rush evolui com maestria, principalmente em "The Spirit of Radio" - que não sintetiza apenas "Waves", mas todo o rico universo musical dos canadenses.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tuvuca e sua vitrola chegam a 2010

É difícil iniciar 2010 com um texto positivo, depois de tantas desgraças naturais, impulsionadas por políticos desgraçados, atingindo nosso país. Mas, inspirado pela sempre bem-vinda nostalgia, tentarei.

Para isso, falarei da minha maior paixão. Como diz a minha biografia no Twitter, sou jornalista, mas o que importa mesmo é o Rock 'n' Roll. Cito a frase dita pelos automobilistas "life is racing, the rest is just waiting" e troco o "racing" por "rock 'n' roll". Afinal, tudo gira em torno de quanto dinheiro ganhar para ver quantos discos é possível comprar.

Sim, discos, e não cds. Sem querer menosprezar o cada vez mais esquecido compact disc, a minha vitrola, que eu ganhei de Natal da pessoa mais especial, a única que pensaria nesse presente perfeito, fez com que 2010 começasse de um jeito bem diferente. Não mais perderei tantas horas em lojas como a Fnac. Sebos do centro, aqui vou eu!

Já comprei algumas coisas novas, juntei as velhas aquisições familiares com as minhas e já ouvi um monte de bolacha, virando para o lado B sempre que o A acaba. É gostoso demais. Você consegue ver a música girando, fazendo o trajeto vinil-agulha-vitrola-caixa de som. É muito diferente. É muito melhor. E muito mais real.

Eu não tinha uma vitrola decente há uns dez anos, quando a de casa pifou de vez. Meu pai tentou arranjar outra, mas que nunca funcionou de verdade. A nova, no entanto, é especial.

É da Philips, e vira uma maleta para levar para qualquer lugar. A tampa se transforma nas caixas de som. Imagino que tenha sido o primeiro walkman de verdade - afinal, dá pra ligar até com pilha.

Dois dias antes de ganhar a vitrola, fui na galeria fazer compras de Natal para mim mesmo. E vi o vinil do "Permanent Waves', do Rush, por R$ 15. Levei e pensei "vou comprar um disco do Rush por mês até completar a coleção" (que já está completa em cd, diga-se). Parecia uma premonição.

Falarei mais do Permanent Waves em um futuro post, que resgatará a esquecida seção "Efemérides do Rock" - essa deverá ter novos capítulos em 2010. Por enquanto, continuo encantado com a vitrola.

Ela fechou um ano brilhante para mim no que diz respeito a Rock 'n' Roll. Foram os melhores shows que eu assisti do Iron Maiden (no Rio e em SP, que me inspiraram um dos melhores textos que já escrevi, na minha opinião) e do Kiss (o outro foi o de 1999). Também foi a primeira vez que eu presenciei Heaven and Hell (sensacional), Faith no More (também) e, principalmente, o AC/DC, que merece um futuro capítulo à parte.

Aliás, depois do AC/DC, eu fechei a série de bandas que eu realmente precisava ver ao vivo. E será difícil ver algo melhor do que Brian Johnson, Angus Young e os outros três. Mas continuarei indo atrás dos dinassouros em estádios e casas de show.

E, quando voltar para casa, ouvirei os discos na vitrola lembrando de 2009, um ano marcado pelas boas recordações de Rock 'n' Roll.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mala... de dinheiro!


Estamos em uma reta final de Campeonato Brasileiro. Fala-se sobre julgamentos estranhos no STJD. Decisões incoerentes da arbitragem. Supostas ajudas a São Paulo, Palmeiras, Flamengo e agregados.

O entorno do futebol é um saco. É um saco tão grande que mancha o esporte e o deixa ainda menos atraente, não bastasse o baixo nível técnico dos times que não conseguem segurar seus craques, apesar das melhoras de 2009, quando assistimos a Ronaldo, Adriano e Fred, além das boas fases de Diego Tardelli e Diego Souza, entre outros.

Mas não vou ser mais um que questionará o gol maluco que o juiz anulou e desanulou no Palmeiras x Sport. Nem ficar perguntando como que o Simon pode ir para sua terceira Copa fazendo cagada pós-cagada. Comentarei sim a mala preta do Barueri.

"Preta?", alguém há de perguntar. Sim, preta. O que diabos é a "mala branca"? Muitos, incluindo grande parte da imprensa, consideram que mala preta é o "incentivo financeiro (dinheiro) para um outro time perder um jogo" e a mala branca define o "incentivo financeiro (dinheiro) para um outro time ganhar um jogo". Mas... quem inventou essa convenção?

Meu ex-chefe de FOL, Eduardo Vieira da Costa, dizia e defende a tese de que a "mala branca" é uma invenção recente da imprensa apenas para diferenciar da "preta", que teria uma conotação negativa. Há alguns anos, tudo era "mala preta". Mas algum gênio redefiniu os termos e os jornalistas embarcaram em mais um desses jargões futebolísticos malucos.

Edu diz também que essa coisa de mala preta e branca pode até passar uma indesejada conotação racial, a qual não creio que tenha motivado a criação do termo. Mesmo assim, concordo que a mensagem possa ser entendida dessa forma pejorativa. Concordo 100% com o veto da "mala branca". O R7 (ainda bem) pensa a mesma coisa.

Isso tudo era um desespero para um ex-colega meu, de nome Leandro, também jornalista e que ficava louco com a FOL. Ele mandou uns 200 e-mails, em diferentes campeonatos, nos chamando de imbecis porque "confundíamos" as malas pretas e brancas, azuis e vermelhas, e coisas do tipo.

Tudo condenável

No fim das contas, tudo deveria ser chamado de "mala de dinheiro" mesmo. E é tudo condenável. Se uma é condenável esportivamente, a outra é condenável profissionalmente. Nenhum time deve receber dinheiro de outro time (seja dirigente, jogadores ou até mesmo torcedores) para se dedicar mais em determinada partida. Isso não tem o menor sentido. O salário acertado em contrato deve suprir isso. Nada mais.

Quer dizer que o Corinthians, por exemplo, precisa de dinheiro do São Paulo para tentar ganhar do Flamengo? Não basta um negócio chamado "dedicação à profissão"? Aliás, existe isso no futebol?

E essas relações libidinosas entre clubes precisam ser combatidas. Cada um que cuide do seu. E todos os jogos precisam ser disputados em iguais condições entre os adversários. O que significa, por exemplo, que o Flamengo não deveria poder proibir o Palmeiras de escalar o Obina em um confronto entre os dois. Se ele jogou contra todos os outros, tem que encarar o Mengão também. Condições iguais. Quem mandou emprestar?

Obina, um dos principais jogadores do Palmeiras atual, não jogou na partida entre os dois, válida pela 30a. rodada do Brasileirão, no Palestra. E o Mengão meteu 2 a 0. Se Obina tivesse jogado, quem sabe o Palmeiras não teria ganhado? Agora, seria o líder do Brasileiro, empatado com o São Paulo, e poderia ter tirado o Flamengo da briga.

Mas quem vai se preocupar com essas coisas pequenas, que envolvem palavras estranhas como "ética" e "moralmente condenável"? Melhor dizer que vai investigar e deixar tudo do jeito que está. Mudar para quê?

Não podemos esquecer que a prioridade do STJD é punir jogadores que já foram punidos em campo por suas infrações. E depois, é claro, "despuní-los", revertendo a suspensão para cestas básicas e papagaiadas do tipo. Além de tirar mandos de campo por motivos nebulosos.

É um saco mesmo. Que bom seria se o esporte fosse a manchete, e não o detalhe, do futebol...

Um lapso de inspiração...

...me faz querer escrever um texto de novo, depois de três meses e meio.

Desde agosto, como já comentei no post anterior, passei por mudanças que me tiraram o tempo necessário para escrever. Sem contar que nunca fui um blogueiro assíduo, longe disso, e só gosto de escrever sobre assuntos que me inspirem de verdade ou que estejam fora da atenção da mídia.

Mas o fim da temporada da F-1 e a chatice do Campeonato Brasileiro me trouxeram motivação. Primeiro, falarei do segundo tema. Daqui a alguns dias, comentarei o primeiro.

Segue.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Dois meses e três dias...

...sem postar. Esse tempo foi extremamente corrido, marcado por grandes mudanças e que não motivaram esse blogueiro a escrever.

Continuarei com ele assim por algum tempo. Os poucos que o acessam, portanto, que curtem os posts antigos. Peço desculpas.

Agora, pelo menos, o blog está com um layout novo para facilitar a leitura. O irônico é que não há nada de novo para ler...

No Twitter, ainda estou sempre atualizando pelo @tuvuca. Siga por lá.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Libertadores + desmanche = pressão

Há um mês e um dia, o Corinthians levantava a taça de campeão da Copa do Brasil em Porto Alegre. Neste domingo, um Corinthians completamente diferente empatou com o Avaí por 0 a 0 pela 16a. rodada do Brasileiro, no Pacaembu.

Não vou aqui repetir o que muitos cronistas, comentaristas e pessoas em geral alertam sobre o que o Corinthians pode se tornar após ter perdido três titulares (Cristian, André Santos e Douglas) e três reservas (Saci, Lulinha e Otacílio Neto). Irei me concentrar no que representa a disputa da Libertadores no ano do centenário corintiano.

Só uma coisa é pior do que o desempenho do Corinthians nesse torneio, que já foi vencido por São Paulo (três vezes), Santos, Grêmio e Cruzeiro (duas), e Flamengo, Vasco e Internacional (uma). O fato de clube, torcida e time não suportarem as quedas na competição.

A falta de conquistas na Libertadores é um trauma para qualquer corintiano, principalmente pelo estranho e inusitado fato que a equipe já foi campeã mundial sem nunca ter nem chegado a uma decisão em seu próprio continente -coisas da Fifa.

A torcida já se revoltou diversas vezes contra o time por conta de derrotas na Libertadores -os casos mais lembrados são recentes, em 2000 e 2006, anos em que a equipe quase foi agredida por torcedores depois de ser eliminada. Nessas ocasiões, e também em 2003, o time desabou no torneio seguinte, o Brasileiro.

Dessa maneira, esse desmanche pode ser sim um tiro no pé. Cristian, André Santos e Douglas, apesar dos altos e baixos desse último, eram essenciais no grupo e precisam de substitutos fortes. Edu, ídolo porém veterano, não é suficiente.

Antes das saídas confirmadas, especulava-se que Ronaldo só ficaria no Corinthians em 2010 se o time mantivesse a base, o que já não aconteceu. E se ele sair? Em quem a torcida depositará confiança e, por conseguinte, pressão? Nos bons coadjuvantes Alessandro, Elias e Jorge Henrique? Nos jovens Dentinho, Jucilei e Marcelinho? No Chicão, que é só zagueiro e não resolve na frente? No goleiro Felipe, cuja permanência ainda nem é 100%certa?

Um pouco em todo mundo, muito provavelmente. E é isso que assusta. Um possível fracasso na Libertadores no ano do centenário pode recolocar o Corinthians em uma gigantesca crise, com debandadas, discussões e problemas internos, como aconteceu nas eliminações mais recentes.

Por isso, é bom que Andrés Sanchez e diretoria tomem cuidado e percebam que esse jato imediato de dinheiro pode gerar um imenso problema daqui a um ano. E todo o bom trabalho iniciado em dezembro de 2007, diretamente do fundo do poço, com a contratação de Mano Menezes, pode ir por água abaixo no ano que vem.

Que não se iludam. O centenário é muito mais do que uma grande festa. É sim um ano de imensa responsabilidade. Precisa fazer mais do que o máximo para satisfazer a torcida.

Torcida essa que, por sua vez, precisa aprender a perder a Libertadores e também compreender que o torneio é superdifícil de conquistar. O Palmeiras, por exemplo, perdeu três finais e ganhou só uma. O São Paulo ganhou três e perdeu duas. O Grêmio venceu duas e perdeu outras duas. Não é fácil, realmente.

No sábado, o pior dirigente atualmente no Corinthians, o falastrão e cheio de pose diretor de futebol Mário Gobbi, foi agredido por torcedores. Isso já é resultado da pressão da Libertadores-2010. É melhor tomar cuidado e rezar para que haja um planejamento e uma boa possibilidade para a equipe de buscar o mais inédito dos títulos.

Se isso não acontecer, o centenário, teoricamente um ano de festa, pode se tornar um ano dos mais tristes na história corintiana, como têm sido as temporadas de derrota na Libertadores.

domingo, 19 de julho de 2009

Tudo muito engraçado

No começo do ano, mais precisamente no dia 9 de março, Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro, ficou bravo.

Ronaldo, em entrevista ao Faustão, ainda bem acima do peso e logo após estrear pelo Corinthians, brincou ao lembrar o início da carreira: "No Cruzeiro eu passava fome, era magro porque não tinha o que comer."

Perrella tomou as dores. Em nota oficial, disse tudo isso:

"A estúpida declaração do jogador Ronaldo Nazário no programa Domingão do Faustão, ao afirmar que era magro porque passava fome quando jogou pelo Cruzeiro nos causou enorme estranheza. Primeiramente, o Cruzeiro Esporte Clube quer esclarecer que magro, desnutrido e sem base educacional era o garoto que chegou para treinar no clube no início da década de 90.

Na Toca da Raposa Ronaldo recebeu acompanhamento de nutricionistas, preparadores físicos e também de professores para dar-lhe educação formal. Tal transformação foi tão extraordinária que o atleta, com apenas 17 anos, foi convocado para a Copa do Mundo de 1994.

Infelizmente, com o passar do tempo um dos maiores jogadores do planeta passou a ocupar mais espaço nas manchetes por causa de suas atitudes fora das quatro linhas do que dentro dos gramados. Com uma vida conturbada e polêmica, recheada de escândalos e controvérsias, Ronaldo parece ter perdido o equilíbrio que se espera dos grandes ídolos."

Ou seja, sobrou até para a vida pessoal do atacante, em um caso no qual o tom de brincadeira era explícito.

Mas tudo passa. Perrella, que nunca se desculpou por essas palavras dirigidas ao ex-ídolo cruzeirense, entregou hoje uma placa a Ronaldo por seus feitos pelo clube mineiro. Posou lá, todo bonitão, com o jogador mais badalado do Brasil.


É claro que a homenagem do Cruzeiro é bonita e justa, diferentemente da postura e atitude de seu presidente.

E tem mais: se você tentar seguir o link da nota oficial publicada pelo presidente do Cruzeiro em março, no site oficial do clube, endereço este registrado na matéria feita na época pela Folha Online (que acho até que foi escrita por mim), você simplesmente não consegue abrir a nota -é direcionado para a home do site oficial.

Afinal, é mais fácil (tentar) apagar o passado do que (tentar) corrigi-lo.

Crédito da foto: VipComm/Divulgação

Tuvutwitter

Sempre disse para mim mesmo que só escreveria no blog quando tivesse algo diferente e interessante para dizer. Essa condição, aliada a falta de tempo, me fez com que eu o atualizasse muito pouco nesse um ano e meio escrevendo nesse endereço.

Bom, "encontrei" uma solução para essa intermitência. Vou usar o Twitter para as atualizações curtas, como zilhões de pessoas já fazem, e este blog fica apenas para os textos mais profundos -como já acontecia.

Como sou genial!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

E o Rei se vai


Claro que esse post deveria ter entrado ontem, no auge da comoção, mas infelizmente a internet não permitiu. Eu já até havia reformulado todo o layout do blog que, atendendo a pedidos, ficará desse jeito a partir de agora para facilitar a leitura.

E com esse novo layout dedico o post ao acontecimento que ninguém consegue ignorar. A morte de Michael Jackson reflete, de certa forma, sua própria vida. Trágica, estranha, grandiosa, inesperada. Fui um dos que ficou não apenas chocado, mas até abalado com o que aconteceu.

Em fevereiro do ano passado, quando "Thriller" ganhou uma edição comemorativa de 25 anos, escrevi isso sobre o Rei do Pop, rasgando elogios ao álbum e comentando a triste fase pela qual o cantor passava.

Tudo pareceu mudar nesse ano. Com o anúncio de que ele faria diversos shows em Londres para se despedir dos palcos, eu sorri ao acreditar que ele poderia sair da música de forma triunfal. Cantar e dançar uma última vez os seus sucessos, que compôs e que refletem o tempo em que tudo parecia correr bem.

Infelizmente, a infância estelar mesclada com a relação tumultuada com o pai e as futuras excentridades e controvérsias apontaram a morte lenta do ídolo. Que culminou no dia 25 de junho de 2009, sem dar a ele a chance de subir ao palco uma última vez. Voltar ao lugar que o elevou a mito.

O fato de morrer tão próximo dos shows impossibilitou o retorno triunfal do herói. Ele chegou ao topo e depois foi ao fundo do poço, inclusive financeiramente, sem poder se recuperar. Agora, para muitos, resta saber o que a necropsia irá apontar como causa de sua morte. Mas, no fim das contas, não fará diferença alguma.

Topo

Acho "Bad", e principalmente "Dangerous", bons discos. O fato de eles não chegarem a 10% do que foi o "Thriller" não os torna ruins, mas indicam a decadência do músico e megalomaníaco Michael. Essa decadência se acentuaria a tal ponto que acabaria matando a carreira artística do Rei do Pop.

Mas todo seu legado fica, principalmente "Off the Wall", disco que escuto nesse momento, e "Thriller" (inclusive o videoclipe), além de seus trabalhos anteriores com o Jackson 5 e The Jacksons.

Hoje, a música pop perdeu o maior de seus ícones e tenho certeza que nunca irá se recuperar -como nunca se recuperou depois que Michael se "aposentou" há alguns anos.

Aos 25 anos, em 1983, MJ colhia os frutos de "Thriller" e vivia seu auge. Morreu exatamente 25 anos depois. Parece que a trajetória de sua vida foi simetricamente perfeita, desenhando o caminho até o topo e a posterior queda.

E ele era tão grande que tinha que morrer aos 50 anos, como símbolo de alguém que nunca quis envelhecer.

Já o pobre Tuvuca não tira de sua mente a passagem de MJ pelo Morumbi em 1993, que não pude acompanhar por causa da pouca idade.

De qualquer forma, o primeiro CD que eu comprei na minha vida foi o "Dangerous" (ou segundo -não lembro se comprei o "Skid Row" antes), lá por 1992. Hoje, infelizmente não o tenho mais, mas possuo uns 400 discos, e ele será para sempre especial por ter ajudado a despertar meu amor pela música.

Só por isso eu já te agradeço, MJ.




quinta-feira, 25 de junho de 2009

O acordo


Apenas para registro, porque não pude postar ontem. Primeiro, acertei parte de minha previsão:

Creio que, no fim das contas, a FIA vai dizer que Ferrari, Red Bull e Toro Rosso não podem sair, que eles têm contratos a cumprir e blablabla. Bernie Ecclestone dará sua dose de contribuição nas intimidações, ameaçando processos, e a coisa toda continuará indefinida.

Logo depois disso, a FIA afirmou que processaria as equipes. No entanto, tudo acabou resolvido em seis dias, para surpresa de todos. Mosley concordou em sair. A Fórmula 1 não terá teto em 2010. E todo mundo ficou feliz.

Aparentemente, as equipes venceram, e Mosley não pareceu ter ligado em perder. Acho que ele se encheu de tudo isso e resolveu confirmar sua saída. Afinal, não está passando pelo melhor dos momentos em sua vida pessoal -um de seus filhos morreu recentemente de overdose.

Apesar disso, tem gente que aposta que ele vai continuar mesmo assim. Para mim parece improvável, mas não duvido de nada envolvendo esses caras.

No fim das contas, Ecclestone deve ter ficado bem rico, e a F-1 vai continuar do jeito que está, só que com mais controle das equipes. E a novela que se arrastou por tanto tempo foi resolvida rapidinho após as equipes anunciarem a F-Fota.

E vamos embora porque temos coisas bem mais importantes para tratar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O racha


A Fota (Associação das Equipes da F-1) acabou de anunciar que vai iniciar as preparações para organizar seu próprio campeonato e deixar Fórmula 1, FIA, Max Mosley e Bernie Ecclestone para trás.

Não vou ficar lamentando toda essa lenga-lenga, a inabilidade em atingir um acordo, a onda de comunicados oficiais e as chatices dos dirigentes. É isso tudo que eu acho. Uma chatice.

Claro que o teto orçamentário é o maior pretexto, mas na verdade as equipes querem mesmo é ganhar mais grana e mandar no campeonato. E Mosley é um cara meio de ferro, nada derruba ele, então há de se imaginar que a FIA vai reagir à altura a esse anúncio da Fota. Tem muita coisa para acontecer ainda.

Muitos acham que é apenas uma ameaça da Fota, e que tudo vai ser solucionado como se nada tivesse acontecido. Também tenho essa impressão, com uma ressalva -se a FIA cumprir o prometido e anunciar oito equipes no lugar das oito que saíram, aí acho que a vaca vai pro brejo mesmo. Afinal, como vão poder excluir essas novas escuderias depois de as terem aceitado?

Creio que, no fim das contas, a FIA vai dizer que Ferrari, Red Bull e Toro Rosso não podem sair, que eles têm contratos a cumprir e blablabla. Bernie Ecclestone dará sua dose de contribuição nas intimidações, ameaçando processos, e a coisa toda continuará indefinida.

Mas se Mosley aceitar a cisão e anunciar as novas equipes, o automobilismo verá sua relevância no esporte diminuir imensamente, o que é lamentável.

Teríamos o campeonato das montadoras, que provavelmente receberá bem mais destaque por contar com a Ferrari e as equipes e pilotos melhores e mais famosos. Já a F-1 terá como trunfo as pistas, a estrutura, e a tradicional e hoje pequena Williams, que desfilará nos traçados ao lado de algumas aventureiras -incluindo aí a Force India, por mais que ela participe da categoria atualmente.

Mas uma coisa nesse comunicado da Fota me chamou a atenção com um olhar positivo: "Esta nova série terá um sistema de administração transparente, apenas um tipo de regra, encorajará os iniciantes e trará vantagens para os fãs, como ingressos mais baratos, em todo o mundo" - segundo tradução da AFP.

Se essa promessa da redução dos preços dos ingressos for cumprida, seria fantástico para os fãs da categoria, além de ser uma atitude simpática.

Outra intenção da Fota é voltar a correr em circuitos tradicionais ignorados por Ecclestone, como Montréal, por exemplo, algo que também beneficiaria os aficionados pelo esporte, que são muitos nesses locais. Espero que Interlagos consiga uma boquinha nesse campeonato se ele virar.

Mas o ideal mesmo é que essa guerra política diminua e que todo mundo coma logo essa pizza, coisa que eles estão, no fundo, louquinhos para fazer.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Reunited


Não sou o maior dos fãs do Faith No More, mas considero o álbum "The Real Thing" o melhor disco de rock dos anos 90 -apesar de ele ter sido lançado em 1989, representou uma injeção de ânimo no estilo e abriu caminho para novas (para mim, ruins) vertentes, como o new metal. Ainda vou fazer um post, esse ano, lembrando os 20 anos do lançamento (tenho no blog aquela seção esquecida das "efemérides do rock").

Apenas por isso, a reunião da banda com quase todos os integrantes de "The Real Thing" -a exceção é o guitarrista- foi uma das melhores notícias recentes no rock 'n' roll. Fizeram os primeiros shows na semana passada, e eles já estão completos no YouTube (quanta modernidade!).

O vocalista Mike Patton não é o mesmo do início da década de 1990, mas tem uma ótima e louca performance, entrando com uma bengala no palco, e pulando, gritando, urrando, e até cantando, o tempo inteiro. O setlist, por sua vez, é sensacional.

Todos eles, tirando o batera Mike Bordin, vestem ternos, e mantêm o aspecto comédia da banda. Para começar o show, em vez de um hit pesadão, como "From Out of Nowhere" e "Falling to Pieces", resolvem lançar um cover de uma baladinha romântica, que nunca haviam gravado, com o sugestivo nome de "Reunited" (hit de 1979 da dupla soul Peaches & Herb). A letra conta a história de um casal todo feliz e apaixonado com a volta de seu romance, após um tempo separado.

Eu achei a sacada sensacional. É totalmente anti-clímax abrir o show tocando uma música que quase ninguém conhece e que não tem nada a ver com a banda. Mas, assim, celebram a própria reunião, com aquela cara canastrona que não se pode levar a sério. É só ver o vídeo.

É bom saber que os caras voltaram de bom humor, que sempre marcou esse que é um dos grupos mais originais e criativos do hard rock/heavy metal da segunda metade da década de 1980. Foram ao topo nos anos seguintes, mas cansaram dessa vida há 11 anos.

Agora, voltaram, e que essa reunião renda ótimos frutos.